quinta-feira, 30 de setembro de 2010

• Famílias indígenas estão entre vítimas de incêndio em São Paulo

Há pouco mais de vinte anos, a política indigenista no Brasil era voltada para a transformação do índio num brasileiro como outro qualquer. A verdadeira conseqüência disto foi tirá-lo da fartura e do sossego nas aldeias, para transformá-lo em favelado nas cidades, sujeito às mesmas mazelas que sofre o brasileiro pobre. Os efeitos dessa política até hoje se fazem sentir, como no incêndio que atingiu a favela do Real Parque, na zona sul de São Paulo, na manhã do dia 24 de setembro.
No local, que era conhecido pelos moradores como alojamento da Rocinha, viviam cerca de 300 famílias, aproximadamente 1.200 pessoas, conforme informações da subprefeitura do Butantã.
Vários órgãos municipais se apresentaram para distribuir cobertores, colchões e alimentos, prometendo que, a partir do fim do mês, as famílias teriam direito a bolsa aluguel de quatrocentos reais, durante doze meses.
Sem providências imediatas, os desabrigados só não dormiram ao relento porque foram socorridos por outras famílias da favela, que cederam espaço para que eles passassem a noite.
Das cerca de 300 famílias atingidas, aproximadamente 40 são de indígenas Pankararu, sendo uma média de 180 indígenas desabrigados. O povo Pankararu é originário do estado de Pernambuco e começou a migrar para São Paulo já na década de 1950.
O incêndio revela a omissão do poder público em resolver o problema da falta de moradia, omissão esta que se verifica na falta de diálogo com as comunidades e na ausência de políticas específicas.
A comunidade Pankararu há mais de 20 anos vem solicitando uma área territorial própria que os prive dessas condições humilhantes e desumanas.
Para muitas famílias, é desmoralizante observarem a contradição luxuosa, do outro lado da favela, na região onde vivem. Se no fim da década de 50, migravam de sua aldeia por causa da seca e de conflitos com invasores, hoje lutam na cidade contra a especulação imobiliária, por respeito aos povos indígenas que vivem em áreas urbanas, por condições dignas de sobrevivência na metrópole e por uma atuação rápida e séria do poder público.

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