quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Estudo alerta para violações às terras indígenas na produção de soja

Das 78 terras indígenas (TIs) listadas pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI), ao menos 30 ficam em municípios com mais de 10 mil hectares de soja. Este é o alerta dado pelo centro de monitoramento de agrocombustíveis da ong Repórter Brasil e se refere ao estado do Mato Grosso, localizado na região centro-oeste. E é justamente a relação da sojicultura com as terras indígenas o foco do Relatório "Impactos da soja sobre terras indígenas no estado do Mato Grosso", lançado nesta semana pelo centro.
Produzido em parceria com a instituição holandesa Netherlands Centre of Indigenous Peoples, o relatório tem o objetivo de revelar os impactos produzidos pela soja cultivada no brasil. De acordo com Verena Glass, integrante da coordenação do estudo, a expectativa é que o relatório tenha grande repercussão na Holanda, segundo maior importador de soja produzida no Brasil.
Para ela, é necessário chamar a atenção do mercado internacional para as violações e os impactos relacionados à soja produzida no Brasil. Da mesma forma, acredita que é importante fechar mais os critérios utilizados para a sustentabilidade. "na nossa visão, não existe sustentabilidade na transgenia, no uso de agrotóxicos... levar a monocultura branca para os indígenas pode ser uma forma de renda, mas não é desenvolvimento sustentável", comenta.
O Mato Grosso foi escolhido para essa pesquisa pois, de acordo com o estudo, esse é um dos Estados brasileiros com maior número de povos indígenas. Além disso, é lá onde a agropecuária e a agroindústria estão em grande expansão, com destaque para a produção da soja.
De acordo com o relatório, atualmente a soja em Mato Grosso cresceu, em produção, oito por cento ao ano em média, saltando de 8,8 milhões de toneladas no início da década para 18,2 dois milhões de toneladas em 2010, segundo a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (APROSOJA-MT).
Nem mesmo os indígenas conseguiram escapar do avanço da soja no Estado. Os indígenas akwe-xavante, da terra indígena Maraiwatsede, por exemplo, sofrem com a invasão de seus territórios. O relatório revela que a terra, homologada pelo Governo Federal em 1998 com cento e sessenta e cinco mil hectares, permanece com noventa por cento de seu território ocupado ilegalmente por fazendeiros e posseiros não indígenas, majoritariamente criadores de gado e produtores de soja e arroz.
A produção de soja nessas terras também tem relações com o desmatamento na região. Com base nos apontamentos do relatório 2010 do Programa de Monitoramento de Áreas Especiais do Sistema de Proteção da Amazônia, quarenta e cinco por cento da vegetação original da terra Maraiwatsede já foram devastados.
Os impactos gerados pelo cultivo do grão, entretanto, não se resumem ao desmatamento do local. As queimadas e a utilização de venenos nas lavouras de soja também causam danos ao meio ambiente e à saúde de indígenas. O estudo aponta que não são raros os casos de xavantes com dores de cabeça ou com problemas respiratórios.
Com informações da Assessoria de Imprensa do Cimi

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